quarta-feira, 23 de maio de 2007

Despedida


Oh, meu amor! Sei que breve morrerei. Quero, porém, adormecer estreitado em teus braços, acostado no bálsamo que é o teu corpo, aquecido pelo calor de teu ventre e embalado pelo canto blandiloqüente de tuas palavras.Morrerei é certo, mas não posso deixar de desfrutar, ainda que na hora derradeira, de tua indelével companhia, por nenhuma outra igualada.Desgraçadamente, se me vão esvaindo pouco a pouco as já débeis forças. E mesmo sabendo que quase nada de tempo me resta, quero dividi-lo todo e completamente contigo. E já que não terei mesmo a salvação de “deus”, fica-me o alento de perpetuar-me em tua memória.Quando fechar para sempre os olhos e partir daqui para o longo sono, mesmo que já não mais sinta, quero ter tuas delicadas mãos em minha fronte. Nelas sentirás pouco a pouco o esfriamento de meu corpo. E oprimindo-me os lábios com um beijo infindo, arrancar-me-ás o ultimo e derradeiro suspiro de minha breve existência.
Agora já no leito de morte tendo chegado à boa hora para partir, em que pese a relutância minha e tua, não posso se não agradecer-te os inebriantes momentos que me proporcionaste. Pelas intensas horas que passei ao teu lado bebendo da mais inesgotável fonte do prazer e da alegria, da força e resistência, da verdade e da poesia, da beleza e da inocência.Ah, se outra vida tivesse, se outra vida houvesse, oh jubilosa! Tens duvidas que de novo a dar-tia?Mas agora já se faz tarde. O sono se aproxima. É hora de voltar a terra e não mais serei dono das ações,mas ela este corpo que ora tocas, em breve misturando a terra mãe, terá seus átomos quebrados e na mistura mais fecunda em outra matéria transformar-se-á, para que assim se cumpra o inexorável ciclo...